Editorial

Venho informar-vos que em breve irei desactivar o presente blog. Aquilo que nasceu de uma brincadeira, para comemorar o Campeonato Nacional dos juniores, tornou-se, num veículo de informação do nosso Clube.

Todavia, o CDPA merece um projecto melhor, mais completo, e actualizado com maior frequência.

Uma última palavra para os vários redactores, que aqui actualizavam a Vossa informação: obrigado.

A partir de hoje, visite: www.cdpacoarcos.com

Miguel Alpendre

1 de julho de 2007

À conversa com José Carlos Califórnia

Custou mas foi, saíu a tão prometida conversa com o nosso técnico José Carlos. Colocámos algumas questões que julgamos serem aquelas que muitos dos nossos leitores gostariam de ver respondidas na primeira pessoa pelo nosso treinador. Passemos então à conversa com ...


Blog: 1) Que balanço faz da época de 2006/2007, Séniores e Júniores?
José Carlos: O balanço desta época, nos dois escalões é distinto. No que diz respeito ao júniores, quando se é campeão, só pode ser considerada positiva. Nem tudo foi um “mar de rosas”, existiram dificuldades, só que todas elas foram superadas com a ajuda de todo o grupo de trabalho e quando assim é, as adversidades passam a ser o tempero, que dá aquele gostinho especial, a tudo o que se conquista.
Relativamente aos séniores, o facto de termos descido de divisão, é suficiente para se apontar, a época, como negativa.
No entanto é importante relembrar, realçando alguns pontos, tais como:
1º - O Clube tinha acabado de eleger a sua nova Direcção (28/Julho/06), quando fui convidado para ser treinador dos séniores. Nesta altura, já todas as equipas da 1ª Divisão estavam formadas, com os seus planteis definidos;
2º - Todos os principais jogadores da época anterior (05/06), já tinham saído para outros clubes (Joi, André Centeno, Bruno Ribeiro, Diogo Lã, Tiago Resende e Rui Gamboa), ficando apenas os dois guarda-redes, o Nelson Ribeiro (muito pouco utilizado), o Suissas (júnior e pouco utilizado) e o Zé Tiago (praticamente não foi utilizado);
3º - Perante este quadro, o C.D.P.A., para a época 06/07, tinha apenas os jogadores menos rodados da época anterior, necessitando de refazer a equipa, com outros elementos. E é aqui que reside, o primeiro grande obstáculo, porque se por um lado, os jogadores disponíveis naquela altura, no mercado já eram escassos, por outro, o Clube e as condições financeiras, obrigaram a negociar reduções significativas nos contratos dos jogadores que ficaram e despenderam a verba possível, para contratar novos jogadores, levando à formação da equipa possível, nestas circunstâncias;
4º - Desta equipa possível, ficámos com 5 jogadores, a fazer o primeiro ano de séniores (José Ramos, André Costa, Gonçalo Suissas, Gonçalo Pestana e João Rodrigues) e depois com Rúben Amorim, Tiago Monteiro e Bruno Januário que eram jogadores sem qualquer experiência, na 1ª Divisão. O nosso plantel foi a equipa mais nova e com o orçamento mais reduzido da competição. E com toda a certeza, um dos mais baixos, dos últimos 15 anos, da história do nosso Clube;
5º - Já com equipa formada, a própria Direcção do Clube, foi a primeira a ter consciência das dificuldades que se deparariam, não me exigindo nada, pedindo apenas, que fizesse, o melhor trabalho possível! Quando decidi aceitar ser treinador dos séniores, senti que para mim, seria aliciante, porém, jamais perdi a consciência e o sentido da realidade das dificuldades que iria encontrar. Até porque, de todos os anos que pratiquei hóquei em patins, 20 deles, foram jogados na 1ª Divisão, portanto tinha e tenho bem presentes, as reais dificuldades que se deparam neste tipo de competição. Como treinador de uma equipa super jovem e inexperiente, nunca me iludi e estive sempre ciente do que iria encontrar;
6º - A inexperiência do grupo, ficou ainda mais exposta, quando se dá a saída prematura do jogador Zé Tiago (decisão do jogador), tornando-a ainda mais vulnerável. Esta ocorrência, faz com que novas estratégias sejam delineadas e implementadas, para tentar minimizar, os desequilíbrios existentes, no grupo. Uma delas foi tentar contratar 2 jogadores em Dezembro, para fortalecer a equipa. Mas, mais uma vez, e apesar do esforço possível da direcção, a componente financeira limitou as escolhas. Tendo sido contratados, os jogadores Rui Cova (Nafarros/2ª Divisão) e Filipe Gaidão (sem clube e que veio a custo zero).
O actualizado plantel, contrariando algumas opiniões, lá foi ganhando alguns pontinhos e muitos foram os jogos que perdemos, apenas pela margem mínima, fazendo com que as pessoas (principalmente as de memória curta) criassem expectativas.
Fiquei triste e desolado, porque soube desde o início, que a época iria ser muito complicada e tudo fizemos para evitar esse acontecimento. Mas a memória não pode ser curta e há coisas que devem ser relembradas aos mais “esquecidos”. A equipa era jovem e inexperiente, as contas do Clube, encontravam-se numa situação que, não há memória, obrigando a direcção, a uma contenção financeira rigorosíssima e a grande maioria dos adeptos, no início, não acreditava na equipa. E contra tudo isto, conseguimos que a expectativa relativamente à equipa, fosse crescendo, ao longo da época, levando-a até ao último jogo do campeonato e pena foi que, o desfecho não tenha sido o mesmo, do da época anterior (05/06), que apenas garantiram a permanência, no penúltimo jogo do campeonato, realizado em casa, com o Portosantense.
Esta recordação serve apenas para lembrar que em momentos idênticos, simples pormenores, fazem a diferença e que existem muitos factores que condicionam o sucesso ou que dificultam o atingir dos objectivos pretendidos.

Blog: 2) A equipa de Séniores subiu de forma, ao longo da época. Fica a sensação se houvesse mais 1 ou 2 jogos o C.D.P.A. não desceria de divisão. Concorda?
José Carlos: Não, não concordo, poderia concordar se tivesse havido menos um jogo, porque na penúltima jornada, estávamos acima da linha de água e assim teríamos garantido a permanência. Não podemos trabalhar no campo das hipóteses, temos de definir objectivos concretos e adequados à realidade existente.
De salientar que a Prova 3 (disputa entre os 6 últimos da 1ª fase), apesar de ter sido positiva, pois em 10 jogos, conseguimos realizar 17 pontos, não foi suficiente, muito devido ao reduzido número de pontos adquiridos na 1ª Fase (19 pontos em 26 jogos). Existiu realmente, uma melhoria de forma, até porque o tempo e a própria competição foi apurando a equipa, mas as coisas, são o que são e por 1 ponto, apenas por 1 ponto, não conseguimos alcançar o nosso objectivo!

Blog: 3) A experiência e utilização de alguns júniores em jogos de séniores foi importante para o título nacional de júniores?
José Carlos: Em parte, porque apenas dois júniores (G. Pestana e J. Rodrigues) fizeram alguns jogos pelos séniores. É lógico que para estes dois atletas foi importante, pois esses jogos, estimularam e desenvolveram muitas das suas capacidades individuais. Mas relativamente, ao título nacional de júniores, outros factores foram bem mais preponderantes e decisivos, para o êxito da equipa.

Blog: 4) Foi o primeiro ano como treinador de séniores. É mais fácil ou mais difícil do que treinar equipas como as que treinou na época transacta (infantis e iniciados)?
José Carlos: A situação não se pode colocar entre ser mais fácil ou difícil, mas sim... diferente! Os objectivos e as expectativas que são colocadas à partida, para cada um dos escalões, condicionam o trabalho a desenvolver e as acções a tomar. E aqui, sim... as situações poderão ficar mais ou menos facilitadas.
É lógico que o trabalho e toda a dinâmica das acções que um treinador deve exercer é distinta nos diferentes escalões, até porque a idade e a maturidade são outras, e as próprias responsabilidades, tanto na perspectiva dos atletas, como na do treinador, também o são. Nos escalões mais baixos, é necessário ter alguns cuidados, como por exemplo, determinado tipo de treino, não poder, nem dever ser realizado, sob pena de prejudicar, irreversivelmente, o natural desenvolvimento dos atletas, enquanto nos séniores esta situação não se coloca.
Houve uma dificuldade que para mim, foi marcante, que se prendeu com o seguinte: nunca escondi a minha vontade de treinar o escalão maior, porém, nunca pensei que fosse tão cedo! E talvez, poucos seriam aqueles, que na minha situação e tendo em conta, a conjuntura do Clube e da equipa que foi possível formar, que aceitariam o convite, mas fi-lo! Mas, para mim, a dificuldade maior, não foi aceitar o convite para os séniores, mas o que essa decisão acarretava - deixar a equipa de infantis - Fomos um grupo unido, forte, onde reinava a amizade e o respeito mútuo, fruto do trabalho exercido, mas muito devido ao carácter e formação daqueles miúdos. A lealdade e o companheirismo são “pequenas grandes” coisas que ficam eternamente gravadas no coração, mais do que qualquer vitória.

Blog: 5) Falemos agora do título alcançado no escalão de júniores. Qual o segredo para a conquista do título nacional, sendo que tudo e todos consideravam o C.D.P.A., um outsider?
José Carlos: Tudo e todos é relativo. Dentro do grupo de trabalho, ninguém se considerava outsider, até porque fomos a primeira equipa a ser apurada e em relação às equipas que estiveram presentes na Final Four, só não tínhamos defrontado o FCPorto, sendo que com as restantes, já tínhamos jogado e sabíamos o que é que valiam e como jogavam, tendo inclusive ganho ao OCBarcelos, no Torneio de Turquel, e sentindo que o SLBenfica não era uma equipa superior à nossa.
Falando sobre o segredo da conquista, é necessário referir que apenas peguei na equipa em Janeiro e apesar de todas as críticas, relativas ao anterior treinador, penso que algumas coisas positivas foram feitas. O meu trabalho, ao nível do treino técnico-táctico, baseou-se em aproveitar e potenciar esses mesmos ganhos, incrementando outros pormenores, que a meu ver, tinham de ser trabalhados, nomeadamente, os aspectos defensivos. Cumulativamente a tudo isto, houve a outra componente, para mim, primordial, que foi o resultado alcançado, com a elevação dos níveis psicológicos e emocionais dos atletas. Considerei importante estimular, esta componente do treino, muitas vezes esquecida, interiorizando-lhes o espírito de equipa, de companheirismo, de amizade, de interajuda, por forma a que a motivação, a vontade e a alegria de estar em campo, viesse de fora para dentro. Todas e quaisquer contrariedades e problemas que existiram - e foram alguns - foram mais facilmente sanados, devido ao espírito existente neste grupo. E quando me refiro ao grupo, falo de TODOS os que estiveram directamente envolvidos e dedicados a esta equipa.
Para mim, foi sem qualquer dúvida, este factor, o segredo do sucesso! Conseguimos ser uma EQUIPA, na ascensão da palavra!

Blog: 6) Considera que foram criadas as condições esta época para que o futuro do hóquei no Clube esteja assegurado, uma vez que o C.D.P.A. é campeão no escalão máximo da formação?
José Carlos: Pondo a questão dessa forma, não me parece que seja suficiente. Não basta ter sido campeão, no escalão de júniores, para assegurar, seja o que for. Até porque, considero que este escalão, já não se engloba na formação.
A formação é algo que tem uma importância vital para o desenvolvimento e continuidade da modalidade, logo, temos de ser muito rigorosos e competentes, quando se fala e trabalha com ela. É um trabalho que parece inglório, porque é necessário estar sempre a recomeçar. O trabalho na formação deve ser constante, sistemático e paciente, não podemos estar à espera de resultados imediatos. Dá muito trabalho “fazer” jogadores de qualidade. Apostar nas crianças e jovens é a chave, e o C.D.P.A., tem créditos firmados nesta matéria, a sua prestigiada história foi sendo construída, muito pela aposta na formação. Mas atenção, que não é só a quantidade de praticantes que é importante, é necessário assegurar níveis de qualidade de performance nos atletas, para que os miúdos quando subam de escalão tenham as capacidades e as habilidades essenciais, para o nível de jogo que lhes vai ser exigido, ocupando condignamente, os lugares dos seus antecessores. Quantas vezes se ouve : “Para o ano A e B sobem e a equipa vai ficar mais fraca”. Deve existir um ciclo ininterrupto, para que esta situação não aconteça. Situações destas, originam equipas desequilibradas, com um número de atletas reduzido e/ou com uma qualidade de jogo inferior à esperada.
A actual Lei das Transferências, não ajuda em nada, só prejudica os clubes que investem na formação. Pondo como exemplo, um miúdo que entre para o hóquei em patins com 5 anos e faça o seu percurso normal, até aos séniores, em que durante a sua formação, evoluiu, transformando-se num jogador de qualidade e pretendido por outros clubes, o que acontece é que o clube interessado leva o jogador, sem que o clube que o formou tenha qualquer tipo de retorno ou recompensa. Isto a meu ver é escandaloso! Se o clube não tem capacidade financeira de assegurar o jogador nos séniores e perde-o para outro clube sem que tenha qualquer contrapartida de todo o investimento realizado, ao longo dos anos, então para quê formar?! Esta situação, é uma, entre muitas outras coisas, que devem ser, definitivamente, alteradas pela Federação.

Blog: 7) Nomes como João Rodrigues, Gonçalo Pestana, João Amaro e Alexandre Andrade, que fizeram parte da equipa campeã nacional júnior, irão integrar o plantel sénior. O C.D.P.A. vai voltar a usar como base na equipa sénior a sua formação, é essa a sua aposta?
José Carlos: Sim, é uma aposta inevitável. Até porque se quisesse ter outras opções, elas não existem. Mas é necessário ter os pés bem assentes na terra, estes jovens irão ser acompanhados e estimulados para conseguirem responder eficazmente ao que lhes vai ser solicitado, a tarefa não é fácil, terão de trabalhar muito para evoluírem. A experiência que adquiri como jogador, diz-me que um bom júnior, não é sintomático, que venha a ser um bom sénior. Muitos foram os júniores com valor que não conseguiram fazer essa transição e acabaram por se perder. Relativamente à exigência na 2ª Divisão, é cada vez mais forte e competitiva, vamos encontrar muitos jogadores experientes, com muitas manhas, com a escola toda, como se costuma dizer! E a nossa equipa será ainda mais nova que a anterior!

Blog: 8) Quais as perspectivas para a próxima época? Tem condições para voltar na próxima época ao escalão máximo do hóquei nacional, ou seja, o regresso à 1ª Divisão?
José Carlos: Não. Até à data, não estão, minimamente, reunidas as condições para se pensar nesse objectivo. Encontramo-nos numa fase em que estamos a tentar fazer uma equipa e têm sido imensas as dificuldades encontradas. A maioria dos jogadores já contactados, também interessam a outros clubes e estes oferecem valores, duas a três vezes mais altos, do que aqueles que podemos oferecer. E hoje em dia a maioria dos jogadores, olha apenas aos valores que poderão vir a receber e não aos projectos que cada clube tem para oferecer. Nem se dão ao trabalho de analisar se o clube escolhido lhes irá dar oportunidades para se valorizarem e crescerem, tudo isto é relegado para segundo ou terceiro plano. Há um mês e meio que estamos a tentar fazer uma equipa, e neste momento estamos precisamente, no mesmo ponto de situação.

Blog: 9) Uma mensagem aos sócios e simpatizantes do C.D.P.A.
José Carlos: Para todos os sócios e simpatizantes ficam alguns ditados e frases célebres que julgo serem uma lição, para todos nós, sobre a forma de ver, sentir, agir e estar na vida:
— “Uma longa viagem começa com um passo”
— “O pessimista queixa-se do vento, o optimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas”
— “Creio muito na sorte, quanto mais trabalho, mais sorte pareço ter”
— “Se a força faz vencedores, a concórdia faz invencíveis”
— “Não procurem defeitos, mas sim soluções”
— “Uma ave deve voar, mesmo que o céu esteja cheio de abutres”

Ao José Carlos agradecemos tudo quanto fez esta época pelo CDPA e que na próxima época os objectivos traçados sejam alcançados.